quarta-feira, 21 de junho de 2017

SAKAMOTO E MIRIAM LEITÃO



ANÁLISE DO ARTIGO  ‘O QUE A AGRESSÃO CONTRA MIRIAM LEITÃO DIZ SOBRE NOSSA TRISTE INTOLERÂNCIA’,  DO JORNALISTA LEONARDO SAKAMOTO.

A defesa que o jornalista Leonardo Sakamoto fez da musa do neoliberalismo Miriam Leitão, me surpreendeu.

De antemão, quero afirmar minha admiração pelo jornalista Sakamoto. Não só pela forma impecável com que escreve, como também pela defesa dos menos favorecidos da sociedade. Leio todos os seus artigos publicados no portal UOL.

Ele defende os mais fracos, e sempre teve o cuidado de não revelar o arco político-ideológico sobre o qual baseia sua defesa. Se é que ele possui realmente uma ideologia política. Mas um intelectual como ele dificilmente não se posicionaria ideologicamente diante das tensões políticas que hoje acontecem por aqui. Como rejeita qualquer religião, essa motivação fica excluída. Ou prefere ficar convenientemente em cima do muro? Embora pareça ser de esquerda, ele toma posições que um esquerdista jamais tomaria.

Como, por exemplo, a defesa da musa do neoliberalismo Miriam Leitão.

Ela diz ter sido atacada verbalmente, num voo, por pessoas “de esquerda”, obrigando a tripulação a mudá-la de lugar.

Considerando sua importância no ambiente midiático de direita que representa os interesses do grande empresariado capitalista-financeiro nacional e internacional, o fato tomou enorme repercussão no âmbito jornalístico, pois que ligada à globo. E, para a minha surpresa, na alma do Sakamoto.

Para ele, o presuntivo ataque àquela senhora representou uma ofensa à democracia. Afirmou que todos deveriam respeitar, vale dizer, suportar passivamente as ideias (mesmo que neoliberais) que ela defende. Democraticamente. Mesmo que com elas não concorde. Atacá-las, só no plano das ideias. Afinal, agredir qualquer jornalista, de que maneira for, é um atentado aos valores democráticos. E revela nossa “triste intolerância”. Estivessem os jornalistas acima do bem e do mal.

Concordo com Sakamoto que uma ideia deva ser combatida com outra ideia. Mas parece, na melhor das hipóteses, que ele ainda não descobriu quem é a Miriam Leitão.

Primeiro, chama-la de jornalista é forçar demais a barra. Ela está longe de apresentar a isenção requerida pela profissão. Talvez o fato de ela trabalhar no ramo do jornalismo, ou, talvez, seja formada em jornalismo, dê essa falsa impressão.

Mesmo se considerarmos que o jornalista vinculado a qualquer meio de comunicação tem de obedecer a "voz do dono", isto é, não se eximir de orientar o artigo a uma visão ideológica, é difícil crer que o Sakamoto não tenha ainda percebido ainda a relação de força atípica entre a atuação da Miriam que fala, e o povo brasileiro que escuta. Quando ela analisa “jornalisticamente” os fatos político-econômicos do Brasil, carrega sua análise com o peso da importância, a força ideológica e de convicção da rede globo, apresentando seu ponto de vista de maneira unilateral, visando um objetivo: entregar o Brasil ao capital financeiro internacional, submetendo nosso país exclusivamente às forças do mercado.

Ela não faz jornalismo: ela é um poderoso veículo ideológico, cuja ação sobre os telespectadores passivos e indefesos molda a mente do brasileiro menos esclarecido, sobretudo da classe média sempre insegura e, de modo geral, pouco culta. Ela, p.ex., não compreenderia, nem se sentiria motivada a ler um artigo longo com o presente tema. Será que o Sakamoto desconhece a força da mídia, sobretudo da globo, na formação da opinião pública?

A democracia que a Miriam defende é a dela e dos seus patrões. Democracia definida exclusivamente segundo os interesses deles. Talvez a do Sakamoto, pela sua identificação com a “democracia” que ela representa. Caso contrário, ele estaria consciente do estrago que tal concepção de democracia causa nos indivíduos, no cidadão, na população brasileira e que constitui a causa das distorções sociais que ele tanto parece combater. Com esse tipo de gente é impossível o diálogo que todos nós prezamos. As análises de Miriam agem com a força de um poderoso meio de comunicação monopolizador que vem intimidando todos os governos, inclusive os chamados “de esquerda” (Lula, logo após eleito, permaneceu, humilde, na bancada do famigerado Jornal Nacional, durante toda a transmissão daquele programa). E a parte esclarecida do povo, que tem seu próprio conceito de democracia, mesmo quando latente (pois baseada nas dificuldades do dia-a-dia), totalmente diverso que o dela, sente repugnação com o que ouve.

Os ouvintes são passivos, não têm como se defender de tal influência. A única solução é desejar um sistema político que não permita que um meio de comunicação de massa, que é uma concessão do Estado, seja usado tão somente para fazer a cabeça dos ouvintes com ideias que vão contra o próprio povo, utilizando meios subliminares de mandar suas mensagens. Como, p.ex., bombardear a cabeça do ouvinte com dizeres que geram falsas expectativas: “As reformas são necessárias” repetidas até ao cansaço, sem dizer explicitamente para quem, na verdade, as reformas são necessárias, qual o grupo de interesse que delas vão se beneficiar.

A natureza humana é emotiva. E, de modo geral, não alcançamos ainda o ápice do nosso autocontrole. Sob o poder do mais forte (e bota forte nisso), ela reage com a frustração reprimida pela impossibilidade de se defender. Pois até mesmo uma reforma política justa depende do esclarecimento da maioria da população. E ela encontra na mídia brasileira, ideologicamente uniforme, um obstáculo intransponível. E, aí, a parte esclarecida, chamada conveniente e preconceituosamente de “esquerdista” (palavra de forte apelo pejorativo moldado pela mídia neoliberal), deseja a ruína da rede globo, com a Miriam e os outros veículos ideológicos juntos. E não consegue evitar a explosão de sua revolta acumulada, quando a estrela global ousa entrar na proximidade do povo constrangido por ela. A reação dos “esquerdistas” foi apenas verbal. Quem acha isso deselegante, não sentiu, infelizmente, tal opressão.

Talvez o Sakamoto esteja no nirvana. Ou seja imparcial demais. Ou parte da mesma corriola. 

Afinal, só pelo fato de trabalhar para a UOL, já daria para desconfiar, inocente!!!

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